BRASÍLIA - O Brasil deverá ter que contornar a
indisponibilidade de força de trabalho qualificada para conseguir
implantar uma indústria nacional de tablet até 2014, conforme cronograma
estabelecido na semana passada pelos ministérios da Ciência e Tecnologia (MCT) e do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior (MDIC).
Para o pesquisador João Maria de Oliveira, do grupo que estuda economia
da informação no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), "nós
não temos mão de obra qualificada para dar suporte à continuidade do
processo de instalação" do tablet, o computador portátil em forma de
prancheta e com tela sensível ao toque.
"A nacionalização vai demandar grandes
esforços para formação de mão de obra", concorda Rogério César de
Souza, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento
Industrial. Ele considera a disponibilidade da força de trabalho para a
indústria de ponta no Brasil "uma questão bem delicada do nosso
desenvolvimento, ainda a ser resolvida".
"Acredito
que existe, atualmente, um déficit de mão de obra em quase todas as
áreas de atuação, o que, com certeza, implica em certa dificuldade de
encontrar profissionais interessados e qualificados para o
desenvolvimento e produção da indústria de tablet", confirma Fábio
Bedran, gerente administrativo da empresa mineira MXT, que anunciou a
fabricação do aparelho para o mercado corporativo.
Conforme
Bedran, a produção de tablets exige a contratação de engenheiros
elétricos, engenheiros de radiofrequência e engenheiros de
telecomunicação, para o desenvolvimento dos dispositivos do aparelho, e
também de pessoas formadas em ciência da computação e sistema de
informação, para o desenvolvimento de aplicativos e programas.
Além
do projeto, há o processo de fabricação do equipamento. Nessa fase, é
preciso engenheiros de controle e automação e, para a fase de testes, é
preciso de mais bacharéis em ciência da computação e de técnicos de
eletrônica. A linha de montagem, que usa robôs e não é intensiva em mão
de obra, e a linha de finalização do produto exigem trabalhadores com
ensino médio.
A estimativa do Conselho Federal de Engenharia,
Arquitetura e Agronomia é que o Brasil tem um déficit de 20 mil
engenheiros por ano. A ausência dos engenheiros e de outros
profissionais para o desenvolvimento de projetos e processos de
fabricação do tablet pode forçar a importação de força de trabalho, como
admitem a Associação Brasileira da Industria Elétrica e Eletrônica e o
próprio Ministério da Ciência e Tecnologia.
Para o secretário de
Política de Informática do ministério, Virgílio Almeida, outra
possibilidade é "treinar profissionais fora do país e trazê-los de volta
para operação das fábricas mais sofisticadas". Segundo ele, "o MCT vai
procurar criar programas que apoiem as empresas a fazer isso".
A
Universidade de São Paulo (USP), a Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp) e a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) são consideradas
centros de excelência para a formação, em nível superior, de mão de
obra para a indústria de tablet.
Quanto às necessidades de
formação de mais técnicos em eletrônica, a oferta de cursos está sendo
verificada pelo Ministério da Educação, para preparar a implantação do
Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e ao Emprego (Pronatec),
ainda a ser votado no Congresso Nacional.
Na opinião do
pesquisador João Maria de Oliveira, do Ipea, "o Pronatec ajuda", mas a
decisão sobre a formação de mais profissionais deve seguir uma
estratégia de l5 anos, que indique até duas áreas de prioridade para a
indústria nacional de tablet, nas quais o país possa se tornar mais
competitivo a longo prazo.
FONTE: Jornal do Brasil
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